Ana Marcela é tricampeã mundial na maratona aquática

ZeroUmInforma/Esportes – A baiana Ana Marcela Cunha (5h21m58s40) conquistou nesta sexta-feira, 21/07, o tricampeonato na prova mais longa do Campeonato Mundial dos Esportes Aquáticos: 25 quilômetros (Xangai/2011, Kazan/2015 e Balatonfured/2017). Adotando uma estratégia perfeita de poupar energia em todo o percurso e ir atacando aos poucos até a chegada do pelotão masculino, a nadadora brasileira sai do Mundial de Budapeste como o Brasil no quadro de medalhas, pois são dela um pódio de ouro e dois de bronze na competição até o momento. Ana coleciona agora 10 medalhas mundiais, contando a conquistada no último Mundial específico de Maratonas Aquáticas realizado, em 2010, na cidade canadense de Roberval.

 

Satiro Sodré/SS Press/CBDA

 

— Aqui é onde tudo recomeça. Estamos em busca de um grande resultado em 2020 (Jogos Olímpicos de Tóquio) – disse Ana, mostrando que está completamente superada a fase em que depois do décimo lugar nos Jogos Olímpicos Rio 2016, passou pela cirurgia para retirada do baço e teve que lidar com suspeitas de que não voltaria ao alto rendimento.

 

A campeã olímpica em 2016, a holandesa Sharon van Rouwendaal (5h22m00s80), e a italiana Ariana Bridi (5h22m08s20) estiveram revezando com Ana e também se aproveitaram do ritmo que o pelotão masculino impôs. Faltando poucos metros para a chegada, a brasileira, mais experiente na prova, soube usar a poupança de energia feita ao longo de todo o percurso.

 

— Das três que ficaram na ponta no final, eu era a única que já tinha nadado esta distância e sabia da dor que a gente sente no final. Essa experiência me ajudou. Tive que ter muita paciência para fazer tudo no momento certo. Na hora que eu juntei com os homens eu soube que só tinham três meninas. Então tentei me preservar o máximo possível, gastar menos energia porque a gente sabe que é decidido no final da prova. Você não pode entrar numa prova que vai durar cinco, seis horas muito tenso. Eu amo o que faço, então eu entro pra fazer aquilo que eu amo. Não dá pra ficar cinco horas com a cabeça tensa. — explicou.

Satiro Sodré/SS Press/CBDA

 

Ana Marcela é a nadadora brasileira com maior número de pódios na maior competição da FINA – nove no total – sendo que três de ouro (ver lista no final). As maratonas aquáticas são um sucesso no Brasil há mais de uma década e deu ao país em Mundiais, além das medalhas de Marcela, mais três individuais de Poliana Okimoto e outras duas em revezamentos (um deles integrado por Ana). Poliana também obteve a primeira medalha olímpica para uma nadadora brasileira, com o bronze nos Jogos Rio 2016. Na conquista no lago Balaton, Ana pensou realmente em fazer algo inédito.

 

— Quando entrei nessa prova eu pensei muito no Cesão (Cesar Cielo), e eu queria fazer algo que nenhuma mulher ainda fez e tentar me igualar a ele. É lógico que eu sei que são seis medalhas de ouro dele, mas ser tricampeã na prova mais longa do Campeonato Mundial… Estou muito feliz! É muita emoção. Nas últimas oito semanas eu treinei muito forte e vim pensando muito na prova dos 5km e depois que ganhei medalha nos 10km, vim mais confiante ainda. Ontem (quinta-feira) eu e a Aurelie (francesa Aurelie Muller) fomos as únicas que estão nos 25km que nadaram o revezamento, então eu tinha que me poupar ainda mais e graças a Deus deu certo – concluiu Marcelinha, que ao lado de Cielo, nos 50m livre, é a única esportista do Brasil a obter três ouros na mesma prova em Mundial aquático. Sem falar que nas maratonas aquáticas femininas, a baiana é a única do mundo a conseguir tal feito em qualquer percurso.

Satiro Sodré/SS Press/CBDA

 

O técnico Fernando Possenti analisou o desempenho de Ana, destacando a disciplina neste período difícil.

 

– Não tem milagre, existe trabalho, dedicação e seriedade. Nestas oito semanas ela não saiu “uma virgula” do que tinha que fazer. Isto foi que a levou para este nível de confiança. Estou muito feliz por vivermos essa retomada com força total. Ver que ela está feliz nadando é muito bom. Agora temos um período bem complicado e cheio. Hoje uma atleta saiu da prova para se poupar para a etapa da Copa do Mundo de quinta-feira, os 10 quilômetros do Canadá. Agora temos que recuperar, descansar e “retreinar” para as próximas provas – disse Possenti, que terá sua barba pintada pela atleta, por pagamento de uma aposta.

 

Allan do Carmo fechou a prova no 13º lugar (5h06m55s7) e Victor Colonese (5h27m14s2), em 22º. Betina Lorscheitter conseguiu finalizar em 19º (6h05m20s00).

 

– Foram mais de cinco horas de prova e o corpo sente bastante. Quando se toca o placar vemos o quanto é dolorido, mas todo o esforço vale. Nadamos por prazer e pela competitividade, então quando chegamos bem cansados é porque demos o máximo. Nas últimas duas voltas eu senti o ritmo e cheguei exausto. Encerro esse Mundial, depois de três provas, e agora temos que avaliar bastante o que melhorar, para no próximo, em 2019, focar nos 10 quilômetros, que será prova de classificação olímpica para Tóquio/2020 – resumiu Allan do Carmo.

 

Victor estreou na distância mais longa da modalidade.

 

– Esta prova é muito difícil, mas consegui completar a prova e como era a minha primeira vez na distância, valeu a experiência. Vim treinado para os cinco quilômetros, mas infelizmente não fiz um bom resultado nesta prova, então nadar hoje (sex) também foi mais difícil – afirmou Victor Colonese.

 

Betina foi a última nadadora a conseguir completar a dura prova no lago Balaton, que teve várias desistências devido ao forte calor.

 

– Estou muito cansada, mas fiz o melhor que eu pude. Conquistei vaga para nadar os cinco quilômetros e nadei essa prova como um desafio pessoal. Em Kazan eu não consegui terminar, então agora estou feliz porque consegui ir até o fim – disse Betina Lorscheitter.

 

Seleção Brasileira: Allan do Carmo, Fernando Ponte, Victor Colonese, Ana Marcela Cunha, Betina Lorscheitter e Viviane Jungblut
Técnicos: Fernando Possenti, Carlos Arapiraca e Christiano Klaser
Médico: Dr. Jose Juan Blanco
Fisioterapeuta: Alexander Rehder
Chefe de Equipe: Ricardo Prado

17º Mundial dos Esportes Aquáticos de Budapeste – Maratonas Aquáticas – Resultados

25km feminino
1º Ana Marcela Cunha
19º Betina Lorscheitter

25km masculino
13º Allan do Carmo
22º Victor Colonese

5km revezamento
6º Brasil — Allan do Carmo, Viviane Jungblut, Ana Marcela Cunha e Fernando Ponte

5km feminino
3º Ana Marcela Cunha
20º Betina Lorscheistter

10km masculino
19º Fernando Ponte
29º Allan do carmo

10km feminino
3º Ana Marcela Cunha
12º Viviane Jungblut

5km Masculino
5º Fernando Ponte
40º Victor Colonese

Histórico de medalhas do Brasil no Mundial de Esportes Aquáticos da FINA

Roma 2009 – Bronze – 5 km feminino – Poliana Okimoto

Xangai 2011 – Ouro – 25km feminino – Ana Marcela Cunha

Barcelona 2013 – Ouro – Poliana Okimoto – 10km

Barcelona 2013 – Prata – Poliana Okimoto – 5km

Barcelona 2013 – Prata – Ana Marcela Cunha – 10 km

Barcelona 2013 – Bronze – Ana Marcela – 5km

Barcelona 2013 – Bronze – Allan do Carmo, Poliana Okimoto, Samuel de Bona – Prova de Equipe 5km

Kazan 2015 – Bronze – Ana Marcela Cunha – 10 km

Kazan 2015 – Prata – Allan do Carmo, Ana Marcela Cunha, Diogo Villarinho – Prova de Equipe 5km

Kazan 2015 – Ouro – Ana Marcela Cunha – 25km

Balatonfüred 2017 –  Bronze – Ana Marcela Cunha – 10 km

Balatonfüred 2017 –  Bronze – Ana Marcela Cunha – 5 km

Balatonfüred 2017 –  Ouro – Ana Marcela Cunha – 25 km

Eliana Alves Cruz/Souza Santos/Mariana de Sá

 

Fonte: CBDA