Colômbia se veste de amarelo para torcer pela Seleção Brasileira

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Há uma Colômbia onde não importa o tanto que você ande e não vai encontrar um pé de café em meio a um horizonte infinito de cana-de-açúcar. Onde, para comprar um pãozinho, é melhor pedir em português ou ninguém vai te entender. Onde James Rodríguez é reconhecido, elogiado e até temido, mas ninguém o coloca acima de Neymar. Há uma Colômbia que nesta sexta-feira (04.07), às 17h, vai se reunir na praça da igreja para torcer pelo Brasil, mesmo que o jogo seja justamente contra a Colômbia.

É longe, mas dá para ir de carro. São 485 quilômetros de São Paulo, em direção ao norte do Estado, a última cidade antes de a terra ganhar o nome de Minas Gerais. Calma a ponto de se ouvir os gorjeios dos pombos que fazem de lar o forro do telhado da igreja matriz, dedicada a Nossa Senhora do Carmo. O povo é hospitaleiro e para o que estiver fazendo para trocar duas ou três palavras com um forasteiro qualquer.

Débora Lopes gerencia o bolão local: confiança no Brasil (Foto - Leonardo Lourenço/Portal da Copa)
Débora Lopes gerencia o bolão local: confiança no Brasil (Foto – Leonardo Lourenço/Portal da Copa)

Guarda com a Colômbia mais famosa, o país mesmo, apenas a semelhança do nome. E nem essa história se explica direito. Contam os mais antigos que ali na beira do Rio Grande havia o povoado de Porto Cemitério, chamado assim, de forma pouco simpática, por causa dos episódios de violência que envolveram boiadeiros que acompanhavam as comitivas de bois.

No fim da década de 1920, porém, a Companhia Paulista de Estrada de Ferro construiu ali uma estação que seguia ao porto de Santos. O engenheiro chefe da obra seria colombiano e sua nação teria sido homenageada ao batizar o local que depois se desenvolveria ao redor até a emancipação de Barretos, em 1959. “Mas não há registros disso. Nem mesmo se sabe o nome desse engenheiro colombiano. Esse é o depoimento de pessoas da época”, explica o assessor jurídico do município, Evandro Maximiano Viana.

Amarelo… e verde

Se faltam ligações mais fortes entre colombienses e colombianos, o nome da cidade não basta para que ali, entre os cerca de 6.000 moradores, forme-se alguma simpatia pela seleção que nesta sexta-feira enfrenta o Brasil em Fortaleza por uma inédita vaga nas semifinais da Copa do Mundo.

“Não vou torcer por estrangeiro, não. A gente, como brasileiro, tem que torcer pelo Brasil”, resume o pescador Sérgio Bonifácio, 60, que nas oitavas de final torceu para que o Uruguai eliminasse a Colômbia “porque é mais perto”. Para esta sexta, aposta num 2 x 1, com gols de Neymar e Hulk.

Na principal avenida da cidade, a atendente Débora Lopes, 27, coordena o bolão que reflete o espírito – e confiança – dos moradores. Por R$ 5, qualquer um pode dar seu chute no placar do confronto entre as seleções sul-americanas. Mas das 36 apostas feitas até então, só duas apontavam derrota brasileira, ambas por 1 x 0. Um dos profetas do caos ainda colocou outros R$ 5 num 0 x 0 difícil de acreditar, dado o apetite por gols dos times.

“Essa Copa é nossa, o pessoal está otimista”, diz Débora, munida de um megafone de brinquedo que toca o coro “eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. “O negócio é torcer pelo Brasil. Que eles até façam um golzinho, só para sentirem o gosto”, completa. “Eles têm um camisa 10 (Rodríguez) que joga bem, tem que cuidar dele. Mas Brasil é Brasil, precisa melhorar um pouco, mas da Colômbia passa”, acredita o cabelereiro Edgard Silva, 35, um pouco mais cético.

Economia

Hoje zeladora da igreja matriz, a baiana Valdice de Sousa Carvalho, 69, saiu do sertão há 50 anos para trabalhar com a família na roça em Colômbia. Ali do lado, enquanto limpa o quiosque de sorvetes da esposa, o paraibano Antônio Benício da Silva, o Tuíca, conta que trabalha levando pescadores de fora para os pontos de pesca do Rio Grande.

Ambos deixaram o Nordeste para se arriscar nos dois principais suportes da economia de Colômbia: o campo e o turismo. “Aqui pega muito tucunaré, corvina, dourado, pintado”, enumera Tuíca, que atua principalmente nos finais de semana, quando a cidade recebe a maior parte dos visitantes que querem fisgar seus peixes no rio que demarca a fronteira entre São Paulo e Minas Gerais.

“Colômbia agora está grande. Quando cheguei, eram só duas ruas”, diz Valdice, que nunca mais voltou à Bahia. “Aqui é bom demais, aqui chove”. Ao redor do centro urbano que ela viu crescer, agora estão enormes plantações, especialmente de cana, hoje mais visível do que os pés de laranja que por anos foram o principal produto da região.

“A cidade é pequena, mas o município tem uma grande área territorial”, explica o prefeito Endrigo Bertin, 31. Segundo ele, a maior fonte de arrecadação da prefeitura são os impostos gerados pelas usinas que atuam por ali. “E tem o rio, que é um atrativo muito grande. O setor turístico, embora a gente não conte com uma estrutura adequada, é importante. De feriado a cidade fica cheia”, diz.

Aproximadamente 56% do PIB (Produto Interno Bruto) de Colômbia é proveniente da agropecuária, segundo o IBGE. O total de riquezas geradas na cidade em 2011 foi de R$ 200,6 milhões – insuficientes para fazer uma oferta por Neymar, avaliado em R$ 206,3 milhões pela consultoria Pluri, que produz relatórios econômicos esportivos.

Sonho de garoto

Por anos o estádio Wataro Maibashi – batizado assim por um ex-prefeito, membro da comunidade japonesa, em homenagem ao pai – foi o palco onde os principais jogadores locais se exibiam com a camisa do Colômbia Futebol Clube, equipe que ostentava o amarelo, azul e vermelho, tal qual a seleção colombiana. Era a principal referência aos vizinhos latinos na cidadezinha.

Era, porque há cerca de dois anos o Colômbia deixou de ter um time adulto. Tricampeão (2008, 2009 e 2010) de um torneio amador que envolve cidades do norte paulista e sul mineiro, hoje mantém o trabalho de base com jovens de até 20 anos. “Sou apaixonado por fundamentos e dou muito valor ao talento individual do atleta”, explica o técnico Alvacir Donizete Tavares de Lima, 34, o Val, ao apontar a filosofia que guia suas orientações. “Gosto de jogar ofensivamente”.

De dourado, a cor adotada no novo uniforme, os meninos de Colômbia veem os jogos da Copa sem desgrudar das próprias ilusões. “Vamos torcer muito para o Brasil”, garante o volante Anderson Machado de Sá, 20. “Sonhamos com a seleção brasileira, em defender o país em um Mundial. É isso o que todo garoto pensa”.

Depois disso, o que mais aproximou Colômbia (SP) dos andinos foi uma placa enviada pelo governo do país homônimo para parabenizar pelos 50 anos de aniversário da cidade. Aplicada numa das paredes do paço, a homenagem foi retirada numa reforma recente e está, provavelmente, em algum lugar nos arquivos da prefeitura.